quarta-feira, 13 de maio de 2009

SILÊNCIOS QUE GRITAM (II) - AS ORIGENS

As árvores têm de se resignar, precisam das suas raízes; os homens não. Não gosto da palavra “raízes” e da imagem ainda menos. As raízes enfiam-se na terra, contorcem-se na lama, crescem nas trevas; mantêm a árvore cativa desde o seu nascimento e alimentam-na graças a uma chantagem: “Se te libertas, morres!”
(Amin Maalouf)

O corte do cordão umbilical foi, em muitos casos, uma intervenção adiada e/ou assistida. Gerações de urbanizados experimentaram o desconforto da coexistência com a mudança de paradigma! Os mais domesticados, renunciavam às origens e afundavam nos seus delírios, refugiando-se em velhas crenças difundidas pelo engenho triturador de sonhos.
No terreno, esboçava-se o projecto de uma vida nova! Enclausurados em guetos de sociedades divididas, o fogo cruzado das ideologias dominantes provocava danos e adiava as decisões. Interesses irreconciliáveis disputavam cada palmo de terra.
Esta ideologia libertadora, ameaça a capitalização de privilégios. Em nome da caça às bruxas, forjam-se pretextos para prolongar as hostilidades! O velho inimigo, sorri
A amnésia histórica instala-se. A diabolização da luta emancipadora dociliza e domestica os mais vulneráveis. Rasgam-se as entranhas do sonho. O pesadelo arrasta-se e secundariza-se a dignidade.
A sobrevivência da utopia está ameaçada, dificilmente resistirá! A morte foi, entretanto, anunciada.
Homens e mulheres, crianças e velhos disputam, no quotidiano, um punhado de alimento. Cobras e humanos, pernoitam em árvores.
Num cenário de destruição, de insegurança, de armadilhas e de indignidades, a degenerescência galopa e os ódios substituem-se à solidariedade e à partilha tão peculiar das gentes da Pérola do Índico.
Nos alicerces dum projecto de contornos bem definidos, ainda que questionado por alguns (muitos?) a nova arquitectura politica terá de dispor de imaginação, capacidade e empenho para conquistar as principais vítimas deste estúpido pesadelo, com rastos de violência aviltantes.
Neste período, muitos moçambicanos, muitos quadros, abandonaram o seu País. Órfãos, coagidos à aventura, engrossaram o caudal dos trabalhadores à mercê da exploração desenfreada dos mesmos, de sempre. Alguns, nem por isso!
Uns e outros ficaram mais pobres: o país e os cidadãos.

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